Borrachinha gerou polêmica no UFC 318 após vencer o russo Roman Kopylov. A vitória foi convincente, mas o que chamou atenção foram suas declarações no pós-luta. Em entrevista ao site Ag. Fight, ele falou abertamente sobre o público brasileiro e não poupou críticas.
“Não quero esse apoio deles, não. Sinceramente. Pode continuar aí. Quanto mais hate, melhor. O hate move muito mais a rede social e engajamento, seja aonde for, do que o amor. De verdade, eu não preciso do público do Brasil. Eu acho que ninguém do UFC precisa. Vai fazer o que lá? Vai vender produto, ticket, pay-per-view? Não acho que faz sentido”
A fala levantou debates intensos nas redes sociais e nos bastidores do MMA. Mas ela também nos leva a refletir sobre um comportamento muito particular do fã brasileiro: a dificuldade em aceitar figuras públicas que se colocam de forma provocadora, confiante — ou, para muitos, arrogante.
Uma questão de identificação
Lutadores que se destacam pela presença fora dos octógonos, como Borrachinha, geralmente não recebem tanto apoio por aqui. E isso não acontece por acaso. A história do povo brasileiro é marcada por luta e superação. Desde os tempos coloniais, quando o país ainda era chamado de Pindorama pelos povos originários, até os dias atuais, grande parte da população enfrenta dificuldades para viver com dignidade.
Por isso, muitos brasileiros foram criados com ideias como “a humildade é uma virtude” ou “a soberba precede a queda”. Assim, quando veem um atleta debochar, provocar ou transformar uma luta em espetáculo, tendem a rejeitá-lo. Mesmo que essas provocações façam parte do show business do UFC, há um limite para o quanto o público tolera esse tipo de postura.
Culturas diferentes, reações diferentes
Nos Estados Unidos, atitudes provocativas são muitas vezes vistas como parte do jogo. Personagens como Conor McGregor e Chael Sonnen cresceram no UFC justamente por saberem gerar entretenimento com suas falas afiadas. Lá, esse comportamento costuma atrair atenção e engajamento.
No Brasil, a leitura é diferente. O torcedor espera respeito. Valoriza o lutador que “fala pouco e faz muito”. E isso não significa que o brasileiro não entenda o lado do entretenimento — mas sim que suas referências sociais e culturais pedem outro tipo de postura.
O desafio da conexão
É claro que Borrachinha tem o direito de se expressar como quiser. Ele entendeu que polêmica gera engajamento — e de fato, isso é verdade. Mas, ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que declarações como essa criam uma barreira ainda maior entre ele e o público nacional. Um público que, apesar de crítico, ainda acompanha com paixão tudo o que envolve o esporte.
Construir pontes é sempre mais difícil do que cortar laços. Mas se o objetivo for crescer como ídolo e não apenas como personagem, entender o torcedor brasileiro pode ser o primeiro passo.